quarta-feira, 23 de julho de 2014

A primeira vez a gente nunca esquece... minha primeira crise aguda de ansiedade ( que eu me lembre!)

Os relatos feitos neste blog não tem intenção de afirmar nenhuma posição absoluta, nenhuma certeza total, nenhuma verdade inquestionável, são e serão apenas relatos subjetivos de uma experiência muito intensa pela qual passei (e ainda passo!) e que transformou minha vida de uma forma muito profunda. Meu propósito ao expor esses relatos é que outras pessoas possam encontrar caminhos para se curar ou amenizar os efeitos desta característica humana natural mas que se transformou em patologia contemporânea severa: a ansiedade.


Somente agora, depois do longo e doloroso processo de cura da mais longa e grave crise de ansiedade que já tive, é que consigo reconhecer qual foi a primeira vez que meu corpo e minha mente deram tilt total e que travei como nunca tinha acontecido antes. 

Foi em Florianópolis em novembro de 2011. Claro que eu já tinha tido vários outros pequenos episódios de crise aguda, mas nada tão intenso quanto este. Considero esta crise que irei relatar como o marco que deu início ao processo mais intenso da minha ansiedade patológica. 

Era um feriado e uma - até então - colega tinha ido passar uns dias por lá para descansar, conhecer a tão falada ilha e aprofundar um pouco a amizade comigo. Essa pessoa é filha de uma grande amiga da minha mãe e, apesar da proximidade das mães, nunca havíamos sido muito amigas. 

Eu, sempre muito ocupada com mil e uma tarefas do mestrado, combinei com ela de que sairíamos juntas apenas quando eu tivesse acabado de escrever uns trechos de um artigo que precisava começar. Ela, muito descolada e sacudida, passeava sozinha durante o dia. 

Eis que numa das noites em que ela estava lá eu deitei para dormir e simplesmente não consegui. O fluxo de pensamentos sobre o artigo, sobre o mestrado, sobre minha vida, enfim, sobre todas as coisas não me deixava dormir. Virei, revirei, desvirei e nada... E não queria fazer muito barulho porque a pessoa estava dormindo no colchão ao lado e não eram necessárias duas insones, apenas eu bastava!

Uma digressão necessária: não era muito comum eu ter insônia, nunca fui daquelas artistas que passa a noite criando, nunca fui muito boêmia, enfim, ficar a noite toda acordada nunca foi muito a minha...

Imaginem então o que começou a acontecer quando fui percebendo a possibilidade do meu dia seguinte ser estragado por conta daquela insônia... Meu nível de ansiedade foi aumentando minuto a minuto... Então tive uma ideia: já que meu dia seguinte já tinha pro saco (notem a ansiedade da ansiedade, nem estava na metade da madrugada e eu já estava achando que: 1) não iria mais dormir mesmo; 2) meu dia seguinte JÁ estava destruído.) eu iria aproveitar a insônia para trabalhar no artigo. 

Subi para o quarto da dona da casa onde morava, pois ela estava viajando e o quarto estava vago, abri o notebook e...

Nada acontecia! Nenhuma palavra sequer era digitada por estes dedinho hábeis no teclado... Tentei começar a escrever algumas ideias mas o meu perfeccionismo exagerado não permitia que saíssem apenas as primeiras ideias vagas sobre o artigo (como é normal num início de processo, mas isso eu só viria a entender depois deste episódio!), era necessário que os parágrafos saíssem já inteiros, coerentes, cheios de significados e de preferência com as referências já corretamente editadas no arquivo! 

Resultado: passei a madrugada inteira travada, com o corpo enrijecido de tensão por não estar entendendo o que estava acontecendo ali! Por que eu não tinha conseguido dormir? Por que o fluxo de pensamentos não parava? Por que eram pensamentos negativos? Por que eu não consegui trabalhar se não conseguia dormir? E se eu travasse de novo no dia seguinte e não conseguisse começar a escreve o artigo? E se eu não conseguisse começar e muito menos terminar? E se eu ficasse sem essa nota? E se acontecesse isso durante a escrita da dissertação? O que a amiga que estava lá iria achar de mim naquele estado? 
A escalada da angústia de uma pessoa que está em crise cresce monumentalmente em questão de minutos... 

A angústia foi tanta que às 7 da manhã liguei para minha mãe para que ela pedisse um remédio para uma homeopata amiga dela. Alguma bomba homeopática que me ajudasse a sair daquele estado de prisão. 

Esperei a amiga acordar e, com toda a coragem que me era possível no momento, expliquei a ela o que havia passado na noite anterior e como eu me encontrava naquele momento. 

Mais uma digressão necessária: sempre fui mega faladeira. Não tenho nenhum problema em me expor e contar o que se passa comigo. 

Mas ali era estranho... Porque a pessoa não era uma amiga muito próxima e me senti muito vulnerável ao seu julgamento. Tive um medo tremendo da sua incompreensão. Mas, como a vida coloca as coisa no nosso caminho para que tudo ocorra da melhor forma possível, ela ficou conversando comigo por hooooooras sobre ansiedade, sobre como os processos criativos também a deixavam tensa e ansiosa e como ela tinha escolhido não trabalhar com a parte comumente entendida como mais criativa de sua profissão por conta deste mal estar que o caos do processo criativo lhe causava. 

Para mim foi muito importante essa conversa com ela. Foi o que me tirou daquela sensação de imobilização. Perceber que outra pessoa também tinha passado por algo semelhante foi muito reconfortante. Sensação de pertencimento e acolhimento. 

Fora o aprendizado sobre as escolhas que melhor funcionam para cada um de nós nessa vida. Para ela, trabalhar com processos criativos simplesmente não rolava e simplesmente tudo bem! Ela não sofria por não trabalhar com a parte da criação na arquitetura. E isso me impressionou: "como assim a pessoa prefere não lidar com criação?!?" e mais grave "e ela é bem tranquila e feliz assim?!?"

Bem, no meu caso, havia sempre uma força, um impulso, um pequeno alerta interno que me dizia que eu não posso ficar muito tempo longe dos processos criativos. Mas daquele jeito ensandecido também não era possível... Tinha que haver um meio termo... 

É esse meio termo que, 4 anos após esse primeiro episódio, eu estou construindo!

Ah, e a moça em questão hoje é uma de minhas melhores amigas! Acho que ter me mostrado vulnerável abriu um canal de comunicação e afeto entre nós! 

Espero que este relato tenha sido útil em alguma medida, mesmo que bem pequenina!
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E até a próximo post!










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